segunda-feira, 30 de junho de 2014

Aproveitando o tempo - Situações diárias: Trabalho

Olá a todos.


Hoje falaremos sobre o trabalho, dando sequencia na série de publicações relacionadas ao aproveitamento do tempo.

O trabalho compõe uma grande parcela de nossos dias.

Podemos ver o trabalho como uma fonte de renda, como a utilização das habilidades e conhecimentos de cada indivíduo para contribuir com o desenvolvimento da organização ou até mesmo para obter prestígio e renome. No entanto, esses propósitos são demasiadamente pequenos e egoístas.

Entretanto, o trabalho possui três principais finalidades, que pouco são buscadas na atualidade:

1ª. Aperfeiçoamento próprio: É no trabalho onde são empregados todos os meios para realizar as atividades da melhor forma possível, com maior perfeição e, como dissemos em textos anteriores, as atividades compõe hábitos e hábitos, virtudes. Tendo isso em vista, o trabalho é o principal meio para que consigamos ser pessoas plenamente virtuosas e naturalmente boas, para poder servir.

2ª. Aperfeiçoamento do próximo: Muito mais importante que buscarmos a nossa própria melhoria, é buscar meios para ajudar os outros a alcançar a plena felicidade - apenas alcançada quando percebe-se que ser virtuoso é bom e permite alcançar a única Verdade, que nos torna verdadeiramente felizes - aconselhando-os e dando exemplos que os incentive a buscar o verdadeiro bem.

3ª. Tarefa de construção da sociedade: Enxergando quais são as contribuições que um trabalho pode ter ao longo da sociedade, percebemos quanto impactamos na construção e desenvolvimento desta. Quando percebemos quão grande é a nossa responsabilidade, a perfeição e esmero na realização do trabalho acabam sendo consequência desta chamada.

Sabendo de todos os benefícios que o trabalho propicia, é muitíssimo pertinente e enriquecedor finalizar esta mensagem com uma ideia extremamente animadora.

O trabalho é algo que, como dito no livro do Gênesis, foi criado por Deus e que o homem foi criado para trabalhar. Dessa forma, como sabemos que Deus ama o que é bom e criou o trabalho como forma de dignificações do homem, todo o trabalho honesto é digno diante de Seus olhos. O que torna o trabalho grandioso não é qual o trabalho que exerce - podendo ser um empresário, vendedor, estudante, limpador ou agricultor - mas sim o Amor que é empregado nesta atividade. Quanto maior o amor colocado no trabalho, mais digno será o trabalho aos olhos de Deus.

Vivamos com o propósito de exercer o trabalho com cada vez mais amor e veremos como os dias se enriquecerão.


Tenham todos uma semana iluminada.


Mateus Boaventura P. Fornias

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Aproveitando o tempo - Situações diárias: Momentos de conversa

Olá a todos.

Dando sequencia na série "aproveitando o tempo - situações diárias", gostaria de mencionar sobre um momento presente na vida de praticamente todos os homens, a conversa.

A fala é o meio que temos para transmitir nossos pensamentos, sentimentos, ideias, meio este que, quando bem aproveitado, pode ser extremamente benéfico, pois pode-se ajudar os outros com as experiências e conhecimento que possuímos e, ao mesmo tempo, aprender com o que os outros tem a nos oferecer.

No entanto, para que este momento seja bem aproveitado, é preciso ter algumas pré-disposições internas e, caso não a tenhamos ou tenhamos em baixo nível, aproveitemos para cultivar estas virtudes:

- Humildade: Nunca seremos capazes de conhecer tudo, nunca. Temos, sim, de aprofundar o nosso conhecimento e manter-nos firmes a eles quando são verdades essenciais, existenciais, morais. Não podemos considerar-nos "senhores da verdade". Dessa forma, reconhecendo quão pouco sabemos, podemos aproveitar estes momentos para aprender com o que os outros tem a nos oferecer e, por sua vez, oferecer aos outros o que conhecemos e sabemos ser bom para eles.

- Caridade: É durante as conversas que, muitas vezes, os defeitos alheios são evidenciados, o desejo de mostrar que se detém o conhecimento por parte da outra pessoa, as críticas e reclamações, as fraquezas. Cabe a cada um entender que todos tem fraquezas e que não existe homem perfeito. De forma a ajudar esta pessoa, pode-se muito bem chamá-la, posteriormente, e dizer-lhe, amavelmente, o que for necessário para ajudá-lo!

- Fortaleza: Conforme mencionado anteriormente, existem coisas que não são verdades firmes, que podem ser facilmente mutáveis, no entanto, existem outras que não podemos permitir que sejam ditas inverdades sobre este assunto. Para estes casos, temos de crescer em fortaleza e manter-nos firmes perante tais críticas.

Este é mais um caso em que podemos ver os verdadeiros tesouros que se escondem no dia-a-dia dos homens, ocasiões para amarmos o próximo e crescermos como pessoas.

Tenham todos uma semana iluminada.

Mateus Boaventura P. Fornias

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Aproveitando o tempo - Situações diárias: Momentos em família

Olá a todos.

Dando sequencia à série de publicações que serão feitas sobre situações do cotidiano que podem (e devem) ser vividas sob uma nova ótica que, por trás de uma aparência simples, podem ser encontrados verdadeiros tesouros, tanto para nós como para o próximo, falarei hoje sobre os momentos em família.

Pelo fato do ser humano estar inserido em um reduto família desde que nasce, tem a forte tendência a deixar com que a convivência em família caia em uma rotina, onde existe muito pouco contato entre os seus membros (pai, mãe, tio, tia, avô, avó, irmãos, etc..) cada um isolando-se nas atividades que mais os apetece, mais prazerosas. Não que isso seja uma atitude consciente, intencional, mas unicamente pelo fato de todos "se acostumarem" com a presença dos outros.

Cabe a cada um de nós ser os veículos de mudança, propondo a todos os membros da família momentos de reunião - durante alguma refeição, antecedendo o horário de dormir, em substituição ao programa de televisão, nos finais-de-semana - e, nestes momentos, aproveitar ao máximo para:

- Exercitar a Diligência: Como os momentos em que é possível reunir toda a família são poucos, é preciso fazer o que se deve e estar totalmente no que se faz, aproveitar cada minuto de sessenta segundos para que estes momentos sejam aproveitados ao máximo, ouvindo o que todos tem para dizer, sugerindo atividades diferentes para serem realizadas, contar os fatos que ocorreram ao longo do dia, distrair-se contando alguns fatos engraçados.

- Exercitar a Caridade: Muitas vezes nosso dia pode ter ido "a mil maravilhas" e, no entanto, o dia de algum de nossos parentes pode não ter sido tão agradável. Muitas vezes, perguntando como foi o dia, buscando entender os motivos de chateação desta pessoa, dando-lhe algumas palavras de conforto são o suficiente para tranquilizá-lo e motivá-lo a seguir em frente e vencer tal obstáculo.

Quantas oportunidades escondem-se em mais esta situação tão comum do cotidiano.

Buscando estes propósitos nos momentos em que nos reunimos em família, veremos como o ambiente familiar se tornará, pouco a pouco, um local de paz e harmonia. As transformações são lentas e graduais, tenhamos a paciência de aguardar para colher os frutos destas sementes que foram plantadas.

Tenham todos uma semana iluminada.

Mateus Boaventura P. Fornias

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Aproveitando o tempo - Situações diárias: Os congestionamentos

Olá a todos.

Fazendo referência a um assunto publicado anteriormente, "Viver o presente", acredito ser muito interessante para todos o início de algumas publicações que serão realizadas nas próximas semanas referentes a ocasiões do cotidiano que, aparentemente banais, escondem grandes ocasiões para crescermos como pessoas e cidadãos.

Gostaria de iniciar esta série refletindo sobre um fato presente no dia-a-dia de grande parte das pessoas e que, muitas vezes, só de pensar gera verdadeiro calafrio. Trata-se do temido congestionamento.

É praticamente automático que, ao pensar em congestionamento, relacionemos ele com desgaste, irritação, desrespeito com o próximo, perda de tempo, cansaço, entre outras fatores. Sabendo-se que este problema dificilmente sumirá da vida dos cidadãos e, além disso, que a vida de todos os seres humanos é composta por sua parcela de contrariedades (felizmente, pois são nas contrariedades que crescemos), reflitamos pois em como podemos aproveitar este momento para melhorarmos.

- Escola de Paciência: No congestionamento é possível identificar diversas atitudes imprudentes e desrespeitosas por parte de alguns motoristas, fato este que, muitas vezes, causam verdadeiro sentimento de irritação e injustiça, principalmente pelo fato de que alguns respeitam às leis de trânsito, enquanto outros desrespeitam-nas e obtêm vantagem, cortando filas, fechando outros, etc..
Perceber que "dar o troco" não conscientizará este motorista irresponsável (não melhorando a sociedade em que estamos inseridos) e manter a paciência, colocando a razão acima do impulso, nos ajudará a crescer nesta virtude tão importante e tão em falta nos dias atuais;

- Escola de Cidadania: Ao vermos alguém agindo de forma incorreta no trânsito, podemos fazer um grande propósito. A cada atitude incorreta vista ou sofrida, serei educado, por exemplo, com alguém que necessitar passagem. Se todos tiverem este pensamento que, para cada mal feito, fazer o bem, outros motoristas verão as atitudes positivas e, quando forem reconhecidas, também passarão a ter atitudes como essa. Dessa forma, com cada vez mais pessoas fazendo o bem, teremos mais bons exemplos e consequentemente mais respeito entre todos, formando assim um ciclo virtuoso.

- Escola de Fortaleza: A virtude da Fortaleza garante que mantenha-se em posse do caráter nas situações mais difíceis. Como podemos resistir firmes à situações extremas se não nos mantemos "controlados" em um pequeno incidente do dia-a-dia? Dessa forma, o congestionamento é também oportunidade para silenciar a reclamação (que não leva a nada), aquietar a irritação e manter-se centrado naquilo que realmente importa, sermos melhores para que assim possamos cada vez mais contribuir mais com os outros.

Essas são três grandes oportunidades escondidas neste momento que enfrentamos todos os dias. Lutemos então para que consigamos aprender com este momento, crescendo assim em virtudes e, consequentemente, seremos seres humanos melhores, que contribuirão cada vez mais para o bem da sociedade.

Como dito anteriormente, nas próximas semanas abordarei outros aprendizados que podemos ter com outros fatos de nosso dia-a-dia.

Tenham todos uma semana iluminada.

Mateus Boaventura P. Fornias

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Consciência e moralidade: moral hoje

Olá a todos.


Transcreverei abaixo um texto escrito na Revista Pergunte e Respondemos (Pergunte e Respondemos, PR 127/1970).


A leitura deste texto é extremamente interessante e esclarecedora a respeito da moralidade dos atos que são questionados e empregados na sociedade atual. Trata-se de um texto um pouco mais extenso do que costumam deparar-se, mas, como disse acima, é extremamente enriquecedor.


Desejo a vocês uma ótima leitura.
                                                                                                                                                


«Diz-se clàssicamente que o fim não justifica os meios.


Será isto verdade mesmo em nossos dias, quando os ho­mens enfrentam situações inéditas?»


Resumo da resposta: A moralidade do ato humano é aferida não somente pela finalidade desse ato (intenção do agente), mas também pelo objeto ou a matéria em torno da qual esse ato versa. Há atos cuja matéria é em si má; tais são os que contradizem às leis da natureza (não matar, não roubar, respeitar a dignidade do pró­ximo…).


Para chegar a determinado fim, o homem tem de recorrer a meios adequados; quem quer o fim, quer os meios. Donde se segue que o fim e os meios são envolvidos no dinamismo de um só querer. Por conseguinte, se alguém escolhe um meio moralmente mau para atin­gir um fim bom, cai em contradição consigo mesmo; quer o bem e o mal ao mesmo tempo; assim destrói o valor bom de sua ação. Não beneficia nem a si nem ao próximo.


Daí dizer-se que o fim bom não justifica os meios maus, nem na era da técnica, quando tantas são as seduções para justificar quais­quer meios.


Resposta: Todos os homens de bom senso foram, até os últimos tempos, unânimes em afirmar que o fim não justifica os meios ou que, em consciência, não se pode empregar qualquer recurso para atingir uma finalidade boa, por mais pura ou útil que seja. Este princípio parece tão evidente que poucos autores sentem a necessidade de o provar. Todavia há quem julgue que, diante dos problemas totalmente novos dos nossos dias, o axioma possa e deva sofrer exceções,… exceções de emergência justificadas por necessidades extremas.


– Em conseqüência, vamos abaixo analisar sucintamente a proble­mática; após o que, tentaremos responder à dúvida suscitada


1. A problemática
O mundo de hoje, com sua explosão demográfica e os problemas que ela abre,… com os novos recursos da ciência e da técnica, tem inspirado aos homens certos comportamen­tos em que o fim reto e honesto parece justificar meios que os antigos reprovariam:


inseminação artificial para dar a cônjuges estéreis a alegria e a estabilidade de um casal fecundo;


o uso da tortura para se extorquirem segredos e assim pôr a salvo a vida de milhões de homens ameaçados por terroristas;


o suicídio empreendido por um prisioneiro a fim de, no auge da dor, não vir a denunciar seus companheiros de luta ou cair na desonra;


o aborto para evitar prole defeituosa ou indesejada;


o sacrifício de vidas humanas inocentes a fim de se obterem me­lhores condições para as gerações futuras.


Em tais casos, os fins ou objetivos são sempre legítimos; os meios eram reputados iníquos. Hoje em dia, porém, per­gunta-se se tais meios não são legitimados pela perspectiva de uma finalidade boa. Os motivos para que se proponha a ques­tão podem-se reunir em três incisos:


1) a multiplicação de meios e recursos que aliviam e facilitam a luta do homem, multiplica as tentações de se usa­rem meios que, segundo os conceitos clássicos, seriam ilegíti­mos, em vista de metas legítimas. Assim, por exemplo, a fecundação artificial, outrora empreendida no gado apenas, hoje em dia pode ser com êxito efetuada também no ser humano, com «vantagens» altamente decantadas;


2) a civilização contemporânea gera uma mentalidade que é cada vez menos propensa a aceitar a Moral e as exigências da consciência. Mediante a técnica o homem moderno se acostumou a ver paulatinamente cair os obstáculos às suas conquistas; barreiras outrora insuperáveis vêm cedendo… Daí sentir ele a dificuldade de tolerar que a Moral refreie ou detenha a execução de planos ousados ou grandiosos. O «prin­cípio da eficácia» leva a não rejeitar meios censuráveis dos quais se possam esperar resultados sedutores;


3) hoje em dia acentua-se muito a «Moral da intenção». Segundo esta, tal ou tal não é bom ou mau em si mesmo; é a intenção de quem o pratica que o torna lícito ou não; a Moral deixa de ser objetiva para se tornar meramente sub­jetiva; «não se considere aquilo que alguém faz, mas a in­tenção com que o faz». Em conseqüência, matar um inocente por espírito de rancor ou vingança seria condenável; todavia matá-lo para salvar uma cidade seria louvável.


Para a Moral da intenção, os meios não precisam de jus­tificativa moral; têm função meramente técnica; são «amorais» ou moralmente neutros. Daí a ruptura, freqüente em nossos dias, entre a Moral e a técnica. A Moral (intenção, consciên­cia subjetiva) seria algo de estritamente pessoal, variável de indivíduo a indivíduo, ao passo que a técnica (a eficácia, o rendimento científico, o progresso) seria algo de objetivo ou um problema da sociedade como tal. A Moral nada teria a dizer no setor da técnica.


Eis como se coloca o problema de nossos dias: pode-se ainda sustentar que o fim não justifica os meios? … ou que a consciência moral tem direito a emitir julgamento sobre os comportamentos que a civilização sugere (às vezes, imperiosa­mente) ao cidadão moderno?


Procuremos a resposta para a questão.


2. Bem e mal: o subjetivo e o objetivo
1. Antes do mais, note-se que dois são os elementos que tornam um ato moralmente bom ou mau, legítimo ou ilegítimo:


- o objeto desse ato ou a matéria em torno da qual versa o ato: assim ensinar ciências e civismo
a um ignorante é ato, por seu objeto, bom. O ato de dar esmola a um indi­gente é, por seu objeto, bom;


- a finalidade ou a meta que se tem em vista ou que se intenciona quando se pratica o dito ato. Esta também tem que ser boa ou reta para que o ator seja moralmente bom. Por conseguinte, quem ensina a um ignorante no intuito de se furtar a imperiosas obrigações de seu ofício ou emprego, está procedendo, mal (pois a finalidade é má). Quem dá ali­mento a um faminto, pretendendo furtar-se a lhe pagar o justo salário, procede mal.


Vê-se, pois, que, para que um ato seja moralmente bom, é preciso seja bom não somente pelo fim ou objetivo ao qual se dirige, mas também pela matéria em torno da qual versa.


2. Desenvolvendo tais idéias, pode-se dizer:


O que torna um ato moralmente bom ou mau, legítimo ou ilegítimo, não é somente a intenção de quem o pratica… Também não é simplesmente o julgamento ou a avaliação de quem age. Além destes elementos subjetivos, existe um crité­rio objetivo para se definir o agir humano. Tal critério é a matéria ou o objeto desse agir.


Ora são atos moralmente bons por sua matéria ou por seu objeto, os atos que atendem às exigências da natureza humana. Com efeito, a natureza humana impõe ao homem certas normas para que o indivíduo se realize ou se torne mais homem; burladas essas normas, o indivíduo se desfigura. Tais normas são válidas em todos os tempos (elas são ante­riores a qualquer tipo de educação ou filosofia) entre essas exigências, está a de respeitar os direitos do próximo, a de amar os semelhantes, a de não fazer a outrem o que ninguém quer seja feito a si mesmo, a de não matar um inocente.. . Todo ato que se conforme a tais imperativos, é moralmente bom; leva o homem a ser mais digno.


Ao contrário, moralmente mau por seu objeto é o ato que desrespeite as leis da natureza, ato que, em vez de levar o homem a adquirir a perfeição para a qual ele é natural­mente chamado, o desfigura e depaupera.


A título de complemento, não se poderia deixar de dizer aqui que o ser humano não «se realiza» de maneira leiga ou sem Deus. Se­guindo as normas de sua natureza, o sujeito segue as leis de Deus, Autor da natureza. Realizando-se a si mesmo, o indivíduo se torna mais próximo de Deus, mais brilhante reflexo da perfeição do Cria­dor. – Nestas páginas estamos propondo a doutrina de tal modo que possa ser aceita também por quem não queira encarar diretamente o problema de Deus.


3. Fim e meios
Acontece freqüentemente que coloquemos certos atos não porque os intencionamos como tais, mas porque os subordina­mos, como meios oportunos, a determinada finalidade – fina­lidade reconhecidamente boa.


É então que se põe a pergunta: não será lícito recorrer a qualquer meio, contanto que se tenha em vista um objetivo reto e digno?


A resposta há de ser negativa.


Por quê?


- Porque fim e meios constituem como que um só objeto do querer ou da vontade de quem age. Sim; fim e meios estão intimamente relacionados entre si, de tal modo que quem quer tal fim, deve querer tal ou tal meio[1]. É, portanto, com um único ato de minha vontade que eu quero o fim e quero os meios correspondentes. Em outros termos: o fim e os meios estão envolvidos no dinamismo de um só querer.


Ora, como já foi insinuado atrás, nem todos os meios têm em si o mesmo valor moral. Assim como há meios que con­tribuem para dignificar o homem, há outros que concorrem para o destruir ou degradar; tais são os roubos injustos, o homicídio do inocente, a tortura que desrespeita as personali­dades. Por conseguinte, se tenho uma intenção boa (a inten­ção de obter algo de bom), só posso aplicar-me a querer meios bons. Sei que o valor de tais meios não é aferido por critérios de técnica ou de rendimento econômico ou de produtividade e eficiência profissional, mas, sim, pela aptidão de tais meios a promover a grandeza e a dignidade do homem, tornando-o mais homem, mais voltado para o seu Fim Supremo (o Fim que responde às aspirações mais características do ser hu­mano), e não apenas mais eficiente no setor da indústria, do comércio, da arte ou da ciência…


Em conseqüência, note-se: o homem que empregue um meio mau ou indigno para atingir uma finalidade boa ou digna, cai em contradição consigo mesmo, comete uma inco­erência ou uma desdita. Eis, em última análise, por que não se justifica que alguém utilize meios em si maus para obter objetivos bons: tal sujeito diz ao mesmo tempo SIM e NÃO a si mesmo ou à dignidade humana e aos valores que ele pre­tende alcançar. Empregando um meio mau, a pessoa se di­minui ou renega quando precisamente intenciona dignificar a si mesma e ao próximo. – Na verdade, a sociedade não é beneficiada quando um de seus membros se avilta, ainda que este intencione auxiliar a sociedade.


Para ilustrar tais afirmações, pode-se recorrer ao exem­plo da tortura. O dever de salvar os compatriotas pode (e deve) aparecer a alguém como uma tarefa sagrada; tal pessoa não se poderia furtar a esse dever sem se sentir infiel a si mesma, ao próximo e a Deus. Todavia, se, para obter a sal­vação dos seus semelhantes, o sujeito lança mão da tortura (a qual, em si, é indigna ou imoral), ele se opõe a si mesmo (à sua dignidade), ao próximo (à dignidade do semelhante) e a Deus mesmo. Em conseqüência, ele não beneficia nem a si nem a outrem. Para atingir sua finalidade, tal pessoa em­prega um meio que, na verdade, a afasta da dita finalidade.


Parece oportuno sublinhar que o valor moral dos meios (como também o dos fins) é um dado que o homem não cria nem estipula, mas que ele recebe da ordem natural das coisas. Ninguém se realiza de qualquer modo ou empregando quais­quer meios; paralelamente, uma semente não dá qualquer planta, mas está subordinada às leis da sua espécie.


A propósito pode-se recomendar o artigo de V. de Couesnongle: «La fin et les moyens», em «Supplément de la Vie Spirituelle» 65, mai 1963, pp. 293-312.


Estêvão Betteneourt O.S.B.

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NOTA:
[1] Um dos correspondentes de Karl Marx, o pensador alemão Ferdinand Lasalle, escreveu a Marx:
«Não mostres apenas a meta; mostra também o caminho. Pois a meta e o caminho estão de tal modo associados entre si que um muda quando o outro muda… Um caminho novo indica uma finalidade nova»